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Biografia Pe. Jesus Santiago Moure (1912-2010)

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Pe. Jesus Santiago Moure em 1948. Fonte: [2]

Jesus Santiago Moure: "O Padre Cientista"

Pe. Jesus Santiago Moure. Fonte: [4]

      Jesus Santiago Moure era um pesquisador dedicado a ciência e a religião, sendo um dos precursores dos principais órgãos de pesquisa do Paraná e do Brasil [1]. Seus pais Miguel Moure Santiago e Maria Santiago Souto moravam em Galiza na Espanha, até seu pai ao ser convocado para a guerra contra o Marrocos e fugir para Portugal, onde foi convidado para trabalhar na equipe de construção das linhas férreas no Paraná, desembarcando no Brasil em 1912 [2]. Moure nasceu dia 2 de novembro de 1912 em Ribeirão Preto, São Paulo, dois meses depois de seus pais chegarem ao Brasil [2]. Posteriormente, mudou-se com sua família para Batatais, Caieiras e Santos onde iniciou seus estudos em 1917 [3]. Quando tinha 8 anos retornou para Ribeirão Preto com a família e terminou seus estudos em 1923 [3]. Sua formação foi basicamente de seminarista estudando, entre outros, filosofia, ciências e teologia [1]. Posteriormente iniciou seus estudos científicos e entrou para a congregação, influenciado pelo convívio com os Padres [2].

      Na igreja o então Jesus Santiago Moure atuava como coroinha, mudando-se com a congregação para Curitiba, onde iniciou os estudos de graduação no Seminário Maior Claretiano em 1925 [3]. Em 1929 foi transferido para o Seminário Maior Claretiano em Rio Claro, formando-se em Filosofia, Ciências Naturais, Física e Matemática entre os anos de 1929 e 1932 [2].  Durante esse período se aproximou das Ciências Naturais, principalmente botânica, escrevendo sua monografia sobre a flora ocorrente próximo ao Seminário Claretiano em Rio Claro, intitulada Pugillus Plantarum Rioclarensium [2]. Nestes anos, Moure tinha como hobby a coleta de insetos, juntamente com o seminarista Franscisco F. Pereira, conhecido como Padre dos escarabeídeos [1,3].

Padre Moure_0332.JPG

Como homenagem a coleção eterniza o seu nome:

 Coleção Entomológica

Padre Jesus Santiago Moure

Porta e vidro colecao_0234.JPG

      O Padre Moure retornou ao Seminário Maior Claretiano de Curitiba em 1933, estudando Teologia por 5 anos [2,4]. Se tornou poliglota aprendendo Francês, Grego, Espanhol, Hebreu e Latim [2]. Finalizou os estudos de teologia em 1937 em Guarulhos pela Ordem Claretiana sendo ordenado como Padre em 23 de maio de 1937, adquirindo o título da Ordem Cordis Mariae Filii (Filhos do Coração de Maria) – CMF [3]. Neste período se dedicou a ciência e a igreja, sendo orientado pelo Professor Frederico Lane do Museu Paulista, que introduziu a soja em Santo Amaro São Paulo [2]. Iniciou na tradução de texto do latim para o português, atuando na sistemática de insetos, principalmente besouros [2]. Por influência do Professor Lane interessou-se pelos estudos da coleção de abelhas do Museu Paulista, a qual estava descuidada desde a saída de Curt Schrottky, no início do século [2,3]. Em 1938 fez a primeira publicação em colaboração com Lane, tendo mais duas publicações em 1938 e 1940 sobre a taxonomia de besouros [3].

      Em 1938 iniciou sua carreira como professor no Seminário Claretiano de Curitiba, e atuou, também, na fundação da faculdade de Filosofia, Letras e Ciências que seria posteriormente integrada a Universidade Federal do Paraná [5]. Em meados da década de 50 o departamento de Zoologia foi criado e Pe. Moure, tornou-se o primeiro professor [2,3]. Concomitante a isso, em 1939 assumiu a Diretoria da Divisão de Zoologia do Museu Paranaense, instituição estadual, tornando-se diretor do Museu entre 1952 e 1954 [2]. Neste período estruturou a biblioteca do Museu Paranaense, a qual se tornou uma das melhores do Brasil, possuindo um grande acervo da área de Entomologia [2]. Em 1952, também deixou de exercer atividades externas da igreja passando a dedicar-se exclusivamente aos estudos científicos [2,3].

      O Professor Pe. Moure publicou uma série de três artigos sobre abelhas, sendo o primeiro em 1940 intitulado Apoidea Neotropica, relatando, principalmente, sobre halictíneos [3]. Em 1948 já tinha publicado 25 trabalhos, a maioria sem pesquisadores colaboradores [2]. A partir de 1950 estabeleceu parcerias com pesquisadores brasileiros e estrangeiros como Warwick Estevam Kerr e Paulo Nogueira Neto [2]. Warwick Estevam Kerr fazia parte do corpo docente da Universidade do Kansas e durante a preparação da revisão das abelhas do Panamá, publicado em 1954, entrou em contato com o Prof. Pe.Moure que possuía amplo conhecimento sobre a sistemática das abelhas da região Neotropical [2,3]. Entre 1955 e 1956, período no qual o Prof. Warwick Estevam Kerr morou juntamente com a família em Curitiba, proporcionou a estabelecer colaboração entre os pesquisadores que publicaram importantes revisões sobre os grupos de abelhas neotropicais, como as tribos Eucerini, Exomalopsini e Tapinotaspidini, publicadas entre 1955 e 1957 [3]. Juntamente com Paul Hurd publicou uma revisão mundial sobre subgêneros de Xylocopa em 1963 e um catálogo do Novo Mundo para halictíneos publicado em 1987 [2]. Dentre os principais colaboradores estão os ex-alunos a Profa. Danúncia Urban e o Prof. João Camargo que atuam na sistemática de abelhas [2].

      Em 1956 o Prof. Moure passou seis meses como Professor visitante na Universidade de Kansas em Lawrence no Snow Entomological Museum trabalhando com abelhas Neotropicais [3]. De julho 1957 a agosto de 1958 o Padre Moure fez a primeira de muitas, visitações pela Europa, trazendo informações corretas sobre a identificações de vários tipos históricos [3]. Desse período retornou ao Brasil com cerca de 1700 páginas de anotações [3,4]. Nos anos posteriores voltou a visitar museus da Europa e da América do Norte possibilitando a obtenção de um grande conhecimento sobre as abelhas neotropicais [3]. Essas informações foram posteriormente foram empregadas no Catalogue of bees (Hymenoptera, Apoidea) in the neotropical region, publicado em 2007, o qual é amplamente utilizado pelos pesquisadores [1]. Ainda no Kansas o Prof. Moure acompanhou o início da taxonomia numérica, tornando-se adepto dessa metodologia ministrando disciplina e palestras sobre o tema, principalmente em congressos de Zoologia [3,5].

      O Prof. Moure disseminou a pesquisa no Brasil, juntamente com os pesquisadores da época, participando ativamente da criação de um dos primeiros cursos de pós-graduação da Universidade Federal do Paraná, o de Entomologia em 1969 [2]. Além disso participou da criação da Sociedade Brasileira de Entomologia em 1937 e da Sociedade Brasileira de Zoologia em 1978 e também do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), órgãos que ainda hoje estão relacionados a pesquisa e ciência no Brasil [6].

      As coletas realizadas pelo Prof. Moure tiveram elevada importância para a Coleção Entomológica da Universidade Federal do Paraná, sendo nomeada Coleção Entomológica Padre Jesus Santiago Moure em 1982 como reconhecimento pelos esforços e dedicação à coleção [3]. Em 1982 teve a aposentadoria compulsória. Entretanto manteve as atividades como professor, ministrando cursos e visitando núcleos de pesquisas com abelhas [6].

      O Padre Moure publicou 266 artigos, na grande maioria sobre sistemática de abelhas Neotropicais, propôs 17 famílias, 219 gêneros, como Habralictus, Paroxystoglossa e Thectochlora.e 484 espécies [2,3]. Dentre os prêmios e reconhecimentos recebidos estão o `Prêmio Costa Lima` em 1970, medalha na comemoração dos 30 anos do CNPQ, dos cinquenta anos da Sociedade Brasileira de Entomologia (1986) e da Capes (2001) [3,5,6]. O Prêmio 'Frederico de Menezes Veiga' concedido pela Embrapa (1998) a condecoração a cientistas como 'Comendador, concedido pelo governo Brasileiro, da Ordem Nacional do Mérito Científico' (1995) e 'Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico' (1998) e o Diploma de Pesquisador Emérito como parte das comemorações dos 55 anos do CNPq [5]. Em 10 de julho de 2010 o cientista morreu aos 97 anos [6].

[1] CARUSO, F. Jesus Santiago Moure (1912-2010) Padre que se dedicou à ciência. FOLHA DE SÃO PAULO. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1607201011.htm>. Acesso em: 03/11/2010

 

[2] MOURE, J. S. M. Jesus Santiago Moure, o padre cientista. Portal Memória Brasileira, Maio/1998. Entrevista concedida a José Wille. Disponível em: <https://www.jws.com.br/2020/07/memoroia-jesus-santiago-moure-o-padre-cientista/>. Acesso em: 03/11/2020

 

[3] ENGEL, M. S.; URBAN, D.; OLIVEIRA, F. F. & SANTOS, I. A. In Memoriam: Jesus Santiago Moure (1912–2010). Journal of the kansas entomological society. v. 85(1), p. 65–83. 2012. doi: 10.2307/41681225

 

[4] CRIA. Catalogo de abelhas Moure. 2008. Disponível em <http://moure.cria.org.br/moure_bio>. Acesso em: 04/11/2020

 

[5] SILVA, L. S. Padre Jesus Santiago Moure – 80 anos. Revista Brasileira de Zoologia. v. 9, n. 1-9. 1992. doi: 10.1590/S0101-81751992000100001 

 

[6]  RODRIGUES, W. C. Padre Jesus Santiago Moure. Entomologistas do Brasil, 2018. Disponível em: <http://www.ebras.bio.br/entomol/entomol_desc.aspx?code=B0EEF21C5>. Acesso em: 05/11/2020

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